domingo, 24 de maio de 2009

Orange County, China

A foto acima foi tirada em Ju Jun, um megaempreendimento chinês de 60 milhões de dólares construído para se parecer com condado sulcaliforniano de Orange County. No Brasil, Alphaville é o mais conhecido exemplo desse tipo de empreitada.

O objetivo, tanto no modelo chinês quanto no de Barueri, é oferecer uma moradia confortável e segura, separando a parcela rica dessas localidades da realidade violenta das grandes metrópoles.

O problema está justamente na origem da motivação para a criação desses condomínios ou bairros de extrema segurança e luxo. A concentração de ricos em um mesmo lugar vai contra o propósito de desenvolvimento das cidades. Condomínios luxuosos trazem consigo investimentos em infraestrutura, serviços e tudo mais, então uma parte da cidade se desenvolve muito rapidamente. A parte pobre, que é isolada não apenas por não ter infraestrutura e empregos decentes, sofre justamente por ser pobre, já que não é sinônimo de status morar ao lado de pobres, nem conviver com eles no mesmo espaço público.

E aí se desenrola um círculo vicioso que não melhora a situação de ninguém: a classe alta continua se isolando por medo da violência e a classe baixa continua tentando sobreviver ou da informalidade, ou por meios que dão origem a criação de redomas antipobreza como Alphaville e a Orange County chinesa.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Open your mind

Em outro post eu falei algo sobre o “efeito” que o minimalismo social causa no consumismo do brasileiro. Um bom exemplo é o do transporte público: em São Paulo ele é meio precário, já que as linhas de metrô não cobrem a parte da cidade que realmente necessita desse serviço, e a frota de ônibus é muito pequena para atender a todos. Paralelo a isso, existe algo comum em cidades como São Paulo – muito ricas e muito pobres ao mesmo tempo – que é a valorização exacerbada de algumas coisas. Nesse caso, é o transporte.

Quem vai pra Europa ou Ásia pode ver que é comum as famílias possuirem só um carro, ou não terem carro, ou mesmo pessoas com empregos bons irem ao trabalho de metrô e ônibus. Lá isso ocorre porque os serviços são de qualidade. Aqui, como o Estado não provê adequadamente o básico do básico, qualquer meio de transporte vira sinônimo de status. E como os carros no Brasil são caros e ruins, qualquer veículo de segmento médio já vira um sonho de consumo maior do que a casa própria.

Bom, perto de onde eu fiz faculdade, na Vila Mariana, tem uma casa minúscula com um Ford Fusion na garagem, e o portão da casa tinha que ficar aberto sempre, senão o carro não cabia lá dentro. Realmente, Thomas Schmall - presidente da Volkswagen do Brasil - estava certo quando disse que “o Brasil é um mercado onde o que vale é o design. Não é um mercado racional".

Em outro post ainda pretendo falar sobre os condomínios fechados, que, ao contrário do mercado automobilístico, escondem um fato social amargo e perturbador.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Improbus Societas

Ontem saiu a notícia de que um erro na loja online da Fnac rebaixou os preços de eletrônicos caríssimos, como TVs de LCD, Macbooks e Blu-Ray players para patamares abaixo dos R$10,00. E o que aconteceu? Todo mundo ficou sabendo através do Twitter e a loja bateu recordes de acessos e vendas.

Obviamente os usuários receberam um email avisando que as compras foram canceladas – aliás, segundo o Procon, esse é um erro justificável e a loja não é obrigada a entregar os produtos. Carlos Coscarelli, assessor-geral do Procon, explica, em trecho retirado da notícia da Globo.com: “o Procon tem o princípio da boa-fé e o equilíbrio na relação entre fornecedor e consumidor, que sempre fica em desvantagem”.

Quer dizer, todo mundo mete o pau nos políticos e tudo mais, mas na hora de ser honesto, parece que ninguém faz sua parte.

Pois é, “Para povo desonesto, governante desonesto" (Aldo Menuzio)

notícia original por: Globo.Com

quarta-feira, 20 de maio de 2009

O minimalismo social

Alguém viu o comercial de TV do Emprega São Paulo? É um serviço de busca de emprego do Governo do Estado de São Paulo. Lá o candidato cadastra seu curriculum e procura as vagas em sua área, bem no estilo dos conhecidos Catho ou Manager. Porém, há um grande fato social embutido nesse novo serviço do Governo do Estado: a afronta ao minimalismo social. Como nós vivemos no Brasil, todo mundo acha normal pagar uma assinatura cara (eu estou desempregado e pago R$49,00 por mês na Catho) para poder usufruir de tal serviço. E o minimalismo social é exatamente isso: já que o governo ou a cidade não fazem, a iniciativa privada faz.

É a mesma coisa com saúde e transporte público (este último ainda causa um efeito que eu pretendo postar em outra ocasião). Não que seja obrigação do Governo do Estado ter um site de vagas de emprego, mas o fato de agora tê-lo e ser de graça me fez pensar 2 vezes antes de continuar meu plano da Catho. E me faz pensar como seria a cidade se outros pilares da estrutura de serviços da cidade seguissem o mesmo exemplo.O site do Emprega São Paulo ainda está meio bugado, mas logo deve ser bem funcional. Para quem quiser acessar: https://www.empregasaopaulo.sp.gov.br/imoweb/index.jsp

terça-feira, 19 de maio de 2009

O preço da chamada

Que São Paulo é uma cidade cinzenta e desigual, todo mundo sabe. Mas o pior – ou no meu caso, o mais interessante – é ver como os pobres gastam mais que os ricos em praticamente tudo. Dá pra começar falando da telefonia celular: é um grande negócio ter um celular pré-pago, porque se você não carregá-lo com créditos, ele não funciona, e não chega uma conta na sua casa ao final do mês.

Não vou entrar no mérito de o celular pré-pago ser algo bom ou não, mas ele é claramente direcionado às camadas mais baixas (as que compram celular barato também), provavelmente pessoas que recebem no máximo uns 3 salários mínimos por mês. A diferença de preço entre o minuto da chamada no pré-pago e no pós-pago chega a 150% - é só pesquisar nas tarifas de qualquer operadora. O cara que já tem grana e pode pagar uma mensalidade paga muito menos por minuto do que aquele que gasta o pouco que tem no celular – e faz praticamente uma chamada de luxo, que beira os R$1,50 por minuto.

Isso ocorre por causa da proporção de renda. É a grande quantidade de celulares pré-pagos e recargas de R$10,00 que bancam todo o serviço e dão lucro às empresas de telefonia. E quem ganha com isso é justamente quem tem condições de pagar um plano mais caro (e dependendo do plano ainda pode levar um BlackBerry novinho de “graça”).